domingo, 25 de janeiro de 2009

A Sardinhada


Num dia quente de Agosto sai para uma sardinhada no pinhal. O local escolhido é a zona ribeirinha da praia da Vieira, logo a seguir a passar a ponte a caminho do Pedrógão.

Vesti a minha camisa azul, com comboios pintados de verde e flores em rosa, os meus calções do atletismo (estava mesmo calor) e os meus chinelos pretos da Speedo, aqueles que uso para ir à piscina uma vez por ano.

Sai de casa com os meus óculos de sol e o meu boné de Portugal, em direcção ao meu carro que se encontrava à porta de casa.

Com a janela aberta e o braço de fora, segui em direcção à Sardinhada

Já eram bem perto da uma quando lá cheguei... Um misto de cheiro a caruma e sardinha já se sentia no ar. Veio o chapéu, a manta, o grelhador e o carvao. Fodax!!! Não é que me esqueci da puta das sardinhas?

Eu bem que estranhei o habitual aroma a pinho do ambientador do meu carro não se ter alterado. Lá deixei em cima da bancada da cozinha.

Agora já cá estou... e não vou voltar à Moita da Roda por causa das sardinhas. Tudo se há de resolver...

Não havia um metro quadrado que não tivesse um toalha ou uma manta de retalhos em cima.
Familias inteiras que, praticamente, trouxeram a casa para o pinhal, tal não era a quantidade de adereços que compunham o piquenique.

Tudo isto fez-me pensar... O que faço eu aqui, sozinho?

Mas eis que então vindo de longe, oiço um grito a chamar por mim, era a Graçinda, aquela ninfa de 100kg, dona de uma taberna muito popular na Moita da Roda. Aproximo dela e relembro as tardes que passo a comer pasteis de bacalhau e sandes de toresmo tal é o aroma a oléo queimado que por vezes confundo com o do mecanico da minha Zundapp.

De seguida pergunto-lhe:
- O que fazes por aqui?
- Vim a despedidada de solteiro da Marisa a filha torneiro.

Eu respondi:
- Do Torneiro? Aquele que esteve emigrado na Suiça, e que casou com a prima cega da Joaquina dos Tremoços, que vive logo a seguir ao terceiro pinheiro depois da fonte seca?
- Sim… Esse mesmo. A filha dele casou com um rapaz muito bem posto.
- N´Acredito! Aquela entravada arranjou um homem? Aquela mulher com a verruga na cara, e que parece com a porca do Ti´Jolas?
- Essa mesmo… apesar de achar que estás a exagerar. Ela é uma moça bem bonita.
- Casou com quem?
- Casou com o rapaz muito bem posto na vida… Casou com o borra estradas da junta de Freguesia.
- Muito bem. E falando de ti... Estás bonita! Sempre a espalhar o teu charme gorduroso e o teu cheiro a óleo depois de fritar uns carapauzinhos. Vamos para traz daqueles arbustos?
-Ai Jasus, tás maluco filho dum diabo? Achas que eu, Gracinda, dona de uma tasca na Moita da Roda, vou pa trás dos arbustos cum raio d'um home assim por assim? Nem penses!!! Apaga-me um lanchinho de sardinhas assadas e uma vinhaça, e depois agente conversa!!
-Pois Gracinda, é por causa disso que a Marisa vai pi acima com um noivo entalado debaixo dum braço e tu estás aí vesgarolha e solteira! ... Mas prontus, como a eu me estava também a apetecer umas sardinhazitas, vais compra-las e depois eu logo resolvo se ainda te quero limpar as teias de aranha aí bo bujón!
-Ai Jaquim Manel, meu zébode, na me fales assim que até se me aderreto!

Assim como combinado, a Gracindinha foi pela praia da Vieira acima para comprar umas sardinhitas e eu, Jaquim Manel, resolvi ficar aqui deitadito na minha manta de retalhos a cocá-los e a trincar uma broazita.

Estava eu quase a adormecer qdo ouço:
- Joaquim Manuel! És tu? Ai Meu Deus é mesmo ele!
- Mããããããe, anda cá ver! É o Joaquim Manuel, aquele que namorou comigo e q quando fizeste anos te ofereceu um balde e uma esfregona p lavares melhor o chão.

Eis que ouço esta voz .. Esta moça só podia ser a filha da Cremilde! ( aparece o nevoeiro, o som da Harpa, e eu começo a relembrar os tempos em que conheci a Cremilde) .... era Verão, um verão à séria ! Todo eu suava, acumulava muco em partes do meu corpo que nem conhecia..

Naquela altura era um jovem a passar umas férias de sonho na praia da Mina. Sim, naquele tempo os meus pais eram pessoas abastadas! Tinha ido tudo para o parque de campismo selvagem da Mina, bem à beira da estrada e da Lixeira da Nazaré. Tal era a riqueza naquele tempo que "a gente" até se lavava todo pelo menos uma vez por semana, e uma vez por mês com àgua quente ! Verdade seja dita que no Natal perdiamos a cabeça e até se usava sabão .. mas voltando à Mina .. O verão era de sonho... 23 primos, 12 Tias e 2 tios numa tenda com 2 assoalhadas (os outros tios estavam na guerra pela Guiné).

A nossa tenda era bem conhecida lá pelo parque. Das duas assoalhadas, uma era usada para salgar a carne, fumar o presunto, fritar o coirato, destilar a aguardente, e arrefecer a cerveja, e claro, a telefonia para ouvir o jogo da Bola, ou melhor, os jogos do meu Benfica.

As manhas eram passadas a dormir, e a resacar do dia anterior, tais eram os repastos.. Lá pró meio dia começava-se a enfardar, acabando lá bem perto das três da tarde bem deitadinho na praia de pança cheia, e com a mine pra desmoer!

Belos dias de praia, na manta a destilar. Nunca fui muito amigo de àgua, primeiro porque lava, e depois porque não sabia a cerveja!

Mas tive um dia diferente.. veio ter conosco um tio nosso da França, Maçon de profissão, com 19 Leitoes.. foi comer até mais não! Este dia merecia um mergulho, até porque depois do festival ao almoço, nada melhor que uma banhoca na agua geladinha da Mina!

Não sei bem porque, mas senti-me mal depois daquele mergulho.. sempre disse que banho a mais só podia dar nisto.

Fui em direcção à areia, mas a minha pança não me queria deixar em paz .. Neste momento, e no meio de um vómito a saber a leitão, tropeço num garrafão de vinho daqueles de verga, e caio em cima de uma beldade! Cremilde, moça linda, bigode felpudo, dente pontiagudo, cabelo e patilhas.. Foi amor à primeira vista! Senti-me com o se estivesse no paraíso! Mas o segundo vómito não me deixava em paz ! ....

E eis que acordo com uma lambada no focinho! Que raio de sonho que tava a ter, até vomitar vomitei!!!

O raio de um garoto, ou garota, que ali andava resolveu que me havia de acordar à lamparina... Acordei bem chateado, estava eu a sonhar com a minha musa, até se me estava a babar todo!!

E onde é que andava a minha Gracinda? Eu aqui com a pança a dar horas e ela que nunca mais chegava!

Cheguei-me ao Manel dos Tremoços para ver se ele me pagava um mine e, não é que o raio do homem me diz:
- O moooçççooo tens a brigalheira aberta! Estás a arejar os tomates?
Eu respondi prontamente, enquanto os coçava:
- Estou… eles estão muito quentes e cheio. Daqui a pouco rebentam! Por acaso não viste a Gracinda?
- Olha outro!!! Queres ir para traz dos arbustos com a Gracinda?
- Olha outro? Quem é o Filho de uma Grandessíssima P*** que também quer? Vou-lhe já à cornadura…

O Manel dos Tremoços percebeu que tinha metido o pé na argola, mas mesmo assim respondeu:
- Tem calma moço!!!! Bom não vale a pena esconder-te a verdade, aqui vai - A Gracinda é uma maria vai com todos, ela faz-se de boazinha e santinha...mas ah Quim a verdade é que já o deixou de ser aos 13, quando o Zé da Picheleira lhe deu boleia para Peniche à troca de uns favores sexuais. E segundo consta, a moça é muito boa de boca....

Joaquim Manel estava atónito...como podia a sua Gracinda ser uma filha do diabo?!
-Na pode!!! Na pode, na pode na pode! Nã acredito em nada disso meu grande zébode! A minha Gracindinha de Jasus na pode ser uma Maria vai com todos, eu sei que nã é! Aquele bigode, aquelas patilhas e aquelha farfalheira só me há-dem pertencer a mim! A mim Jaquim Manel de Deus e a mais ninguém!!!
- Ela ainda é puraaa, pura como a puta da mãe dela a trouxe ao mundo, tenho a certeza! Ainda aoutro dia lhe pus um dedo debaixo da saia e ela não alevantou a saia como uma qualquer!
-Jaquimmmm, ouve-me, eu Manel dos Tramoços sei o que te estou a dizer. O Baltazar, o Manel Jaquim, o Asdrubalino do Souto da Capalhosa, o Leopoldo Leonardo, o Manel da Aurora, o Zé da tia Inácia e pelo menos mais o Armindo da Traineira, já lhe vasculharam tudo o que havia por vasculhar... Atrás da moita, no banco do carro, no pinhal, no farol, atrás do pavilhão...
Acredita home!!
- Ai Manel que te arrebento os cornos!!!

E eis que nisto chega a Gracindinha com uma canastra cheia de sardinhas...
- Jaquinzinho meu amor, olha que belas sardinhas eu comprei ao Zé da Tia Inácia para o nosso almoço...valeu a pena a espera não foi, minha bolinha de pêlo..

Pensava ele (ganda puta, andaste foi a comer com ele atrás dos arbustos, não foi?)
Nisto olha para a saia da Gracindinha e vê caruma presa na mesma..... Ah minha....

Nisto... há algo que lhe prende a atenção! Todo e qualquer sentimento de ódio ou traição se desvanece... Jaquim Manel prende os olhos no horizonte e fica com os olhos cheios de lágrimas... Sente-se com 8 anos!

Ainda se lembra... 8 anos de vida, era tão feliz! Ainda se borrava nas cuecas, levantava-se às 5 da manhã para ir com a burra para a serra plantar batatas...
Eram tempos felizes....

E agora ouve este som que lhe recorda como foi a infância que ele nunca teve. Era uma música mágica que o fez esquecer os zébodes todos que andaram a montar a Gracindinha...
Aliás, neste momento ele já nem se lembrava de quem era essa senhora...

Esta música elouquente estava a consumi-lo por completo, tanto que só uma sardinha com broa e 7 mines o fariam distrair!

Eram eles, eles estavam a chegar e ele não se conseguia conter.... Jaquim Manel começou a correr na praia da Vieira, qual Tom Sawyer na beira do Mississipi!?!

Era uma carrinha da Family Frost...

Turururururuuuuuuuuuu!
Turururururuuuuuuuuuu!
Turururururuuuuuuuuuu!
Turururururuuuuuuuuuu!

Sempre achei este som profundamente irritante, mas confesso que nunca o tinha ouvido num Domingo, e no meio dum pinhal... Mas que raio vêm estes gajos fazer para aqui???

Á medida que se aproximava, várias pessoas se iam levantando das mantas e caminhando em direcção à carrinha, acelerando o passo sempre a olhar para trás desconfiadas.

A curiosidade não me largava... É claro que me apetecia aquele gelado de bacalhau com natas que o meu avô me oferecia desde pequeno sempre que o FF passava lá na aldeia, mas se calhar era melhor meter qualquer coisa mais consistente no bucho antes. Não deixei de ir lá espreitar para perceber o que se passava. Não queria acreditar que toda a esta gente queria gelados de bacalhau com natas.

Furei pela multidão, entre sovacos e mangas cavas suadas, mas lá conseguir chegar na frente. Não é que os cabrões também já vendem sardinha fresca???

Conto escrito por:

- Daniel Sousa
- Inês Mota
- Ivone Ribeiro
- Marisa
- Miguel Neto
- Pedro Jácome
- Pedro Pinto

O Nosso Amor Morreu...


Grande Som!

Imaginem este cenário…
Uma rua normal, com dois passeios, diversas vivendas com os seus jardins verdes e arranjados e num dos passeios descia uma pessoa invulgar.
Com muito brilhantina no cabelo, uma popa que fazia lembrar uma onda gigante do Hawaii, uma camisa preta, um fato preto, uma gravata branca, uns sapatos brancos, uns óculos dourados Rayban e uma guitarra ao ombro… Este senhor era o grande Johnny Carcaça, conhecido como o terror da Padaria!
Ele descia a rua com um sorriso nos lábios enquanto cantarolava umas músicas. Ia bem contente a caminho de casa para perto da sua mulher.
Ao chegar ao quintal, saca da guitarra e coloca-a em posição para tocar… Abre a porta, chama pela mulher: “JJJJJJJJOOOAAAAANNNNAAAAA!!!! (Também conhecida como Joana Stick Mata Rolas) Tenho uma música nova para ti…” A Joana desceu apressada para ouvir a música.
Estavam frente a frente e o Johnny Carcaça começa a tocar na guitarra – TTTAAARRAAMMM TTTUUUMMM EEMMMM - e nisto salta e aterra de joelhos em frente à mulher, continuando a tocar guitarra e grita “O Nosso Amor Morreu… e Quem o Matou Fui EEEEEUUUUU!!! - TTTAAARRAAMMM TTTUUUMMM TEEMMMM…
A Joana olha para ele e responde…
“Mas tu ficaste doido da cabeça... Isso são coisas que se digam à tua mulher?!?!?! Põem-te a andar daqui para fora. Agarra nessa guitarra e podes sair pela mesma porta que entraste…” Virou as costas e foi-se embora furiosa mas com uma lágrima a escorrer pelo rosto (como a música do Zé Cabra).
O Johnny ficou de boca a aberta sem saber o que dizer… Vinha tão contente a mostrar a grande música que tinha feito e apanha com uma cena destas. Mas não deu parte fraca – “Se não aprecias a minha música… Vou-me embora”.
E assim foi…

Desespero

Depois de sair e de andar a vaguear uma hora pela rua ele lembra-se… “O meu gel para o cabelo!!!! Como é que a minha poupa vai aguentar sem a minha dose de gel de hora à hora?!?!?!”
No meio desta confusão de pensamentos, e no desespero de estar a sentir a sua poupa empestada de brilhantina a descer 2 milímetros, ele decide voltar a casa para ir buscar a brilhantina… Mas tinha de evitar que a mulher o visse, não podia dar parte fraca. A mulher não podia pensar que ele tinha coração fraco.
Chegou a casa e começou a pensar em como ia chegar à janela do primeiro andar….

O Assalto

Escondendo o seu bem mais precioso, a sua guitarra, atrás de um arbusto, o Johnny prepara-se para treparar por trepadeira. Mesmo ao estilo dos filmes de teenagers Americanos.
Tudo parecia correr bem… Estava a chegar à janela da casa de banho.
Assim que chegou, espreitou à janela e viu que a sua brilhantina não estava no sítio habitual, no santuário da casa de banho. Começou a ficar um pouco desesperado, primeiro porque estava agarrada a uma trepadeira e segundo porque não sabia da brilhantina.
Entrou pela janela, vasculhou a casa de banho toda e não encontrou nada.


A Vingança

Nessa altura do outro lado da estrada, a Joana estava de óculos escuros, um boné e uma casaco com golas levantadas e compridas, dentro de um carro a observar tudo, com uns binóculos, o que se passava em casa.
Ela comenta para si: “Isso Johnny…. Procura pela brilhantina que eu coloquei no lixo!!! Pensas que me fazes sofrer… AHAHAHAHA”
Dentro de casa o Johnny começa a ficar desesperado e em pânico.
Resolve vir cá abaixo buscar a sua guitarra e tocar uma musiquinha para relaxar e para pensar onde é que pode estar a brilhantina. Nesta altura a sua onda no cabelo já desceu 4 mm.
Ele senta-se na janela da casa de banho e começa a pensar que não devia ter-se chateado com a Joana. Sente falta dela… Naquele momento de tristeza, ela faz-lhe falta.
Começa a tocar e a cantar: “Beautiful… I Just Want You To Know That you Are My Favourite Girl!!!”….
A Joana ouve aquela música e vendo a cara do Johnny pelos seus binóculos, percebe que ele está em sofrimento, desesperado e mesmo triste com a situação toda. Eles já estavam juntos à 4 anos, e ela já conhecia todas as caras do seu marido.
Resolve sair do carro e ir a correr ter com ele para se reconciliarem.

A Reconciliação Com um Pequeno Acidente

Joana chega à porta da casa de banho ofegante, sem conseguir falar fica a olhar para ele com bastante ternura.
O Johnny ao vê-la, larga logo a guitarra e corre para os braços dela dizendo-lhe que sentia a falta dela… A Joana retribui o abraço e entre beijos diz o mesmo.
Enquanto fazem as pazes ouvem o camião do lixo que começa o seu trabalho. A Joana diz-lhe que escondeu a brilhantina no caixote do lixo. O Johnny rapidamente vasculha o lixo e não encontra nada… A Joana fica indignada e diz-lhe para procurar melhor. Mas a brilhantina não aparece.
No meio do espanto, ouvem o camião do lixo a trabalhar mas longe da casa. Enquanto olham um para o outro começam a gritar: “AAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHH!” e repetem ao mesmo tempo: “A brilhantina está no camião do lixo!”
Saem de casa a correr e param no meio da estrada, e vem o camião a virar ao fundo do quarteirão. É inútil correr… Já vai muito longe.
A onda no cabelo do Johnny já desceu mais 3 mm… Ele estava a começar a ficar muito deprimido. Correm os dois para casa onde ficam durante dois dias sem sair de casa…
Como dependentes de brilhantina, sabem perfeitamente que esta, só é entregue daqui a dois dias.

DICA: Uma excelente ideia para um negócio – bolsas de brilhantina com uma dose, para assim se guardar nos bolsos, no carro, na carteira, dentro da guitarra…

Conto escrito por:

Miguel Neto

Conheci uma Ucraniana no LIDL


Acordar!

Era sábado de manhã e estava um sol quente quando abri a janela do meu quarto. Vesti umas calças e uma t-shirt, calcei os meus vans novos e desci para tomar o pequeno-almoço.

Enquanto comia um pão com manteiga e bebia o meu cacaolat, reparei que em cima da mesa estava o famoso jornal do LIDL, a Dica da Semana. Entre umas luvas de borracha para lavar a louça a 2,43 €, uma máquina para bater o pão a 15,43€ e uma régua para colocar na cozinha e pendurar os panos de cozinha por 6,87€, encontrei uma coisa que me deixou de boca aberta… O LIDL estava a vender tesouras para cortar as unhas dos pés para pessoas canhotas a 0,73€!

Gritei logo, “Isto não é possível…”

Agarrei no meu skate e fui a deslizar o mais rápido que consegui até ao LIDL mais perto. Por entre ollies, kickflips, nose grinds, 50 – 50 e umas quedas, cheguei ao destino.

LIDL

Entrei ofegante no LIDL e quase a delirar com a compra que ia fazer. Percorri os corredores todos e não encontrei o que queria. O meu coração batia a 1000 à hora, a minha cabeça quase que se despegava do meu corpo, tal era a ansiedade para encontrar a tesoura para cortar as unhas dos pés para pessoas canhotas.

No meio desta confusão de emoções, alguém se chega ao pé de mim e pergunta se preciso de alguma coisa. Viro-me… E nesse preciso momento tudo desapareceu, sentia-me invadido por uma sensação nova e que mexia com o meu coração de uma maneira diferente.

À minha frente tinha uma rapariga com cerca de 25 anos, um cabelo negro, uns olhos muito escuros, umas curvas bem acentuadas e a falar para mim com um sotaque estranho.

Nesse preciso momento percebi que tinha uma ucraniana à minha frente, muito, mas mesmo muito interessante….

Ela procurava uma embalagem de Desentupidor de Canos W5 a 12.95€...

Olhei para o carro de compras dela, e logo me saltou à vista a Gilette, e a escova de dentes! Um bom indício que fazia o bigode, e que tinha a intenção de lavar os dentes, se assim era, era porque os tinha (os dentes)!

Um six-pack de Pilsner Lidl e um pacote de "cacauetes" fez-me crer que era uma mulher solteira que passava as noites, solitária, a ler a Dica da Semana.

Ela continuava a tentar falar comigo, mas eu não conseguia perceber. O sotaque dela continuava a atormentar-me; Este parecia ter origem nos Açores mais precisamente de Rabo de Peixe ou de Chernobil, mas a partir do momento em que reparei que lhe faltava uma perna, e que tinha três orelhas, não tive mais dúvidas em relação à origem da senhora...

Foi então que no meio do turbilhão de ideias e imagens que rodopiavam na minha imaginação, que atrapalhado peguei em algo de um expositor, e respondi que já tinha encontrado o que procurava. Com um sorriso lindo, que ia da orelha a orelha (passando inclusive pela terceira orelha), a bela jovem me diz que também usava essa marca. Aparvalhado, olho para o que tinha tirado do expositor. Nesse preciso momento todo o sangue do meu corpo explode na minha cabeça. Tinha nas minhas mãos um conjunto de lingerie vermelha rendada (copa D) a 12,56€. Sem saber o que dizer, e no meio da aflição soltei um sonoro peido!

O Diálogo

Completamente embaraçado e vermelho que nem um tomate, pensei para mim... “Sou mesmo parvo, perante uma mulheres daquelas, tinha de soltar um peido...” Entre mil e um pensamentos, reparei que os ambientadores de spray com cheiro a pinheiro estavam a 1,58 € e por sorte na prateleira ao lado. Rapidamente disse para disfarçar - “Costumo libertar gases quando quero ver se os ambientadores de spray com cheiro a pinheiro são eficazes...” Depois de dizer isto, volto a pensar que meti o pé na argola, como foi possível usar a palavra gases?!?!? porque não me lembrei de nada mais charmoso???

Ela responde a rir que costuma fazer o mesmo. Eu fico aliviado a contemplar aquele sorriso. Um sorriso lindo e igual às teclas de um piano acabadinho de usar por um agricultor que veio do campo sem ter lavado as mãos.

A conversa continua enquanto nos deslocamos para a caixa. Ela com o seu carrinho de compras e eu de mãos a abanar. Mas a tesoura para cortar as unhas dos pés para canhotos já desapareceram da minha memória, o que me interessa agora é a ucraniana que conheci no LIDL...

Amável como sou, ofereci-me para lhe carregar as compras. Mais uma idiotice para juntar a todas as outras, pois ao sair à pressa de casa, esqueci-me da carteira!

Agora nem um cêntimo no bolso para comprar um saco para as compras... Assim sendo, tive de recorrer à velha técnica do caixote de cartão. Olhei à minha volta, e pumba! Lá coloquei as compras dentro de um caixote vazio de Evax (Que belo cenário... Vans, Calças e T-Shirt à dread e... uma caixa de Evax).

Enquanto nos encaminhamos para a saída, ela estende-me a mão e dá-me um pequeno cartão, onde nas costas escreveu qualquer coisa.

Rapidamente tira-me o caixote da mão e vai a correr (um pouco desengonçada é certo...) para uma Toyota Hiace vermelha, rebaixada, com entradas de ar e tampões que giram, e lá dentro um barrigudo de cabeça rapada, que me parece já ter visto à porta da Danceteria Central.

Antes de entrar, dá um beijo na mão e sopra-o na minha direcção!

Curioso, leio o cartão que me deixou onde tem o seu nº de telefone e o seu nome... Aquela deusa que conheci graças a um corta unhas para canhotos chama-se Maybe! MAYBE??? Que raio... este nome parece-me familiar!

Quando viro o cartão, leio "Maybe Club - Show Girls" e continua "Este cartão vale uma bebida para o show lésbico desta noite".

Bem... não era propriamente o que eu estava à espera... mas quero voltar a estar com ela!

Estou um Gato!

Vou para casa e não consigo tirar da ideia aquela deusa ucraniana, estou a contar os minutos para que chegue a noite... estou decidido em ir ao Maybe.

Enquanto não chega a hora navego no site do Maybe a procura de alguma informação sobre ela, mas é em vão… nada, decido então ver se ela já passou por outras casas e vou ao site de uma famosa casa na Amadora o Estaleiro, mas continuo sem descobrir nada desesperado... começo a imaginar eu... e ela... no esplendoroso Motel Pantanal, num dos quartos famosos por albergar até 3 pregrinos...

Acabei de tomar banho, coisa que não fazia a pelo menos 1 semana, e hoje nem sequer é domingo, vou a por o meu melhor perfume, e reparo que ele terminou, nem um restinho para me por pronto para a acção. É neste momento que decido que tenho de voltar ao LIDL, pego na minha Macal M85 e vou prego a fundo em direcção ao dito cujo, sim são 20H58m e eles no LIDL não perdoam as 21h fecham as portas, cheguei mm a tempo.

Corro em direcção ao corredor do Limpeza & Menage, e pego no perfume, o meu favorito, sim aquele ambientador em spray com cheiro a pinheiro que usei no momento em que a conheci! Será que ela vai recordar?? É certo que sim este cheiro e aquele momento são inesquecíveis. Já em casa, olho para o relógio, são 23.05 está quase a chegar a hora de ir ao Maybe, já fui levantar dinheiro para o que der e vier, a sorte é que é início do mês senão nem no G2 entrava.

Começo a chegar à porta e um nervoso miudinho ataca-me o corpo, em especial na barriga. Sinto os braços a querem responder por si e à medida que me aproximo da porta sinto um arrepio gelado na espinha.

No meio da minha ansiedade, penso nela e muitas interrogações aparecem na minha cabeça… Será que ela se lembra de mim?!?! Será que ela tinha alguma intenção em dar-me o número de telefone?!?! Terei escolhido o melhor ambientador?!?!? Pelo menos foi o cheiro que nos ligou e que criou uma química entre nós.

No meio das minhas questões, chego á porta do Maybe. O porteiro com 2.50 de altura e com uma largura de ombros 4 vezes superior à minha, olha-me de alto a baixo. Um pouco amedrontado com toda a situação, encho-me de coragem e encho o peito para parecer maior e pergunto: Algum problema??

Ao qual ele responde um pouco na dúvida – Não… São 25 euros!

Entro nessa casa de diversão nocturna e começo a olhar para todo o lado à procura da minha deusa. Dirijo-me para o bar e penso – Com o dinheiro que gastei vou passar fome uns dias. Mas que se lixe, é por uma boa causa. Espero eu…

Um pouco com medo peço uma mini Sagres com travão. Tendo repetido está última parte duas vezes, não me fosse sair um biberão.

A Visão da Minha Vida

No momento em que coloco a garrafa na boca oiço a música a aumentar o volume… Que estranho, estou a ouvir a grande Ninfa Artémis com a sua música AHA, Sim, Gato. O quanto eu adoro esta música. Nesse momento de grande emoção no meu coração, vejo a minha deusa agarrada ao varão de inox que se encontra no meio do palco.

A minha boca abriu-se de espanto... a língua colou-se ao buraco que tenho no lugar do véu palatino (foi-me retirado em pequeno, após 3 anos sem abrir a boca a minha mãe adoptiva lá achou que eu não era penas tímido)... Todo o meu ar se esvaiu nos três gases que soltei tal era o espanto. (Abençoado corredor da Limpeza & Menage e o ambientador em spray com cheiro a pinheiro que usei no momento em que a conheci!)

Um varão enorme e ela só com uma perna agarrava-se a ele como se a sua vida dependesse disso. (Pedi mais uma mini... esqueci-me do travão e veio um biberão... mas o que interessa isso agora)

E rodava, rodava, enquanto a sua terceira orelha saltitava por entre aqueles cabelos negros de cor preta. 
Os olhos, igualmente negros e pretos estavam fixos em mim (perguntei-me se ela não seria estrábica como eu... mas rapidamente afastei tão nefastos pensamentos...)...

Que mulher!!!! Que deusa!!!! Eis quando reparo que ela envergava um conjunto de lingerie vermelha rendada (copa D) a 12,56€!!! Só podia ser um sinal!!! Esta mulher desejava-me!!!! Tanto como eu desejava a tesoura para cortar as unhas dos pés para canhotos.
Naquele preciso momento sei que salivei de desejo... senti a baba escorrer no meu lábio leporino e pensei tens que ser minha.... a qualquer preço.

Mas nada... nada me preparou para o que veio a seguir...

Senti uma mão húmida nas costas... voltei-me a medo... era o barrigudo de cabeça rapada, que me parece já ter visto à porta da Danceteria Central.

Por entre os dentes, que não tinha, gasgarejou um seco "Acompanhe-me". Não me pareceu oportuno recusar delicadamente. Optei pela postura serial killer e perguntei: "Há algum problema?" ... Mas caí imediatamente redondo no chão tal foi o choque com o bafo a tungsténio que aquele ser exalava ... Senti que me arrastavam pelo corredor ... na minha cabeça a rebentar de radioactividade ecoava uma e uma só pergunta: "Aquele beijo soprado no parque de estacionamento do Liedl terá sido uma sentença de morte ?"... A última coisa que vi foi a porta de uma Toyota Hiace vermelha, rebaixada, com entradas de ar e tampões que giram ...

O barrigudo de cabeça rapada guiou-me por um corredor cheio de portas com nomes charmosos – Gina, Star, Delice, Katia, Daisy. Perto do fundo do corredor ele parou e apontou para a porta que estava à sua esquerda e disse: “Entra... Tens alguém à tua espera”

Eu estava preocupado e triste pois pensava que ele me ia por na rua. Mas depois de ouvir aquilo fiquei com um pouco de esperança na minha alma. Seria a minha ninfa ucraniana que me tinha chamado?!?! Será que ela sente alguma coisa por mim?!?!?

Finalmente

Um pouco a medo, abro a porta. Sentada numa poltrona estava a minha ninfa a olhar para mim com os seus olhos negros, vestindo uma lingerie diferente, um pouco mais exótica. Ela manda-me fechar a porta, ao que eu obedeço como um cão obedece ao seu dono. Levantam-se da poltrona e reparei que ela vestia uma lingerie de seda preta e roupão transparente vermelho... Ela disse: “Vieste...”, ao qual eu respondo tremulo - “Sim”.

Ela disse: “Tinha medo que não viesses... desde que te vi hoje de manhã no LIDL, nunca mais me saíste da cabeça”.

Enquanto ia falando com o seu estranho sotaque, começava a aproximar-se de mim. Sempre com um ar de dominadora, o mesmo olhar que uma devoradora olha para uma vítima à sua mercê. Eu ia respondendo, e confesso que esse olhar me fazia sentir bem, sempre foi muito tímido nas relações e sentia-me bem em ter alguém a dominar.

Ela ficou mesmo à minha frente, o nariz dela estava a precisamente 1,37 cm do meu, sentia o seu cheiro a ambientador de pinheiro, vi os seus olhos negros como o carvão e sentia o seu hálito a azeitonas pretas a misturar-se com o cheiro a ambientador de pinheiro.

Ela impulsivamente agarrou na minha mão...

Senti umas mãos ásperas, como as mãos de um servente, que trabalhara pelo menos 10 anos preparar e transportar baldes de massa nas obras da barragem do Alqueva.

Nesse momento tive a certeza que ela era a mulher da minha vida! Aquele hálito fabuloso, o rosto exótico, e a perna de pau ornamentada com serpentes e dragões não podia deixar qualquer dúvida.

Ela continuava à minha frente, a apenas 0.97 cm, e não sabia o que fazer... a timidez continuava a invadir-me, a flatulência estava eminente, e não sabia o que dizer. Pensei em contar a história da minha vida, mas demoraria apenas 6 segundos, estando certo que não me resolveria o problema.

Neste momento, ela puxa de um maço de SG Gigante e pergunta se eu queria um... Eu aceitei, é claro, nem que fosse para encher mais chouriços, e para disfarçar o fedor que estava a libertar...

Era a mulher perfeita! Tinha um espaço entre os três únicos dentes inteiros onde cabia perfeitamente o Gigante.

Foi a primeira coisa que lhe disse, e logo ela corou... Disse-me logo que há anos que alguém prestava atenção aos atributos dela, e que nunca mais me largaria. Confidenciou-me que também tinha a capacidade de abrir mini´s sem saca caricas com o 3 dente daquele fabuloso conjunto!

O Que Se Passou?

Enquanto ela falava de todas as suas imensas e sempre úteis capacidades, a minha imaginação já ia voando bem alto... Foi então que alguém bate violentamente á porta enquanto gritava algo como Раскройте дверь! ТЕПЕРЬ! (para quem por algum acaso não saiba russo, significa "Abre a porta! JÁ!").

O pânico instalou-se! Aflita e muito agitada ordena-me que me esconda dentro do armário, ao que obedeço sem hesitar.

Já dentro do armário, consigo distinguir o cheiro a queijo ementaler ligeiramente misturado com o cheiro a dejectos de bebé e com um travo de aroma de cebola bem raivosa... e adoro!

Ao abrir a porta, é imediatamente puxada pelo braço, deixando ficar para trás, qual cinderela, a sua prótese. Nem podia acreditar no que me estava a acontecer? Que fazer? Sair? Ficar?

Ao longe ouvir alguém gritar "Пожар! Побегите на ваши жизни...", e nessa altura pensei para comigo que devia ter seguido o conselho do meu pai, que era uma pessoa sábia pois era o mais velho e pai da minha mãe, para ter seguido os estudos e ter completado a 4ª classe onde certamente teria aprendido todas estas línguas estranhas... Mais tarde viria a perceber que aquelas palavras significavam "Fogo... corram pelas vossas vidas"...

Mas já era tarde demais... o facto de não ter aprendido russo (com sotaque ucraniano) aproximou-me 27 minutos e 46 segundos da morte....

Atordoado com o fumo tentei escapulir-me... deambulei pelos corredores, tropecei nas Ginas e nas amigas, abalrroei três varões de inox, quatro de alumínio e o que restava de um de madeira, já devorado pelas chamas impiedosas (era dado às principiantes até que conseguissem os vistos de residência que adquiriam às 5f no Liedl pela módica quantia de 4,99€....)....

Estanco assustado... na minha mente uma imagem.... a perna da minha musa tinha ficado esquecida, abandonada no chão do quarto em chamas...

A Escolha

Era preciso tomar uma resolução: Voltar ao quarto, enfrentar a morte olhos nos olhos, e recuperar 1/3 da minha ninfa... ou... cagar nisso e safar-me enquanto era tempo.... afinal todas as 5f se encontram ucranianas no Liedl...

Mas penso melhor, e na utilidade das suas habilidades, não é de deitar fora a oportunidade de ter para o resto da minha vida um saca caricas, ou pelo menos até 3ª dente durar.

Decido voltar para trás, tiro o meu canivete tipo Suíço que me custou 3,77€ no LIDL, e sem medo corro em direcção a sala da minha ninfa! Entre as chamas vou pensando que depois de tudo o que se passou, ainda não sei como é que ela se chama, e que possivelmente com todo aquele fogo a rodear-me nunca vou saber....

Finalmente chego a sala, a perna dela esta estendida no chão a ser devorada pelas chamas, espeto o meu canivete suíço na perna, para não me queimar, e saio, em direcção ao WC. Alem de me ter dado uma valente vontade de mijar, preciso de apagar o fogo na perna de pau.

Infelizmente não sei onde é o WC e fico em pânico. A magnífica perna da minha ninfa está a arder e estou com uma enorme vontade de mijar.

Mais uma vez a sorte está do meu lado e encontro uma sala onde o fogo ainda não chegou. Penso rapidamente no que fazer e ocorre-me uma ideia. Atiro a perna para o chão e mijo-lhe para cima... Que alívio! Matei dois coelhos de uma só vez... Sou mesmo esperto!

Depois de aliviar a minha bexiga, olho em frente e vejo que a janela daquela divisão dá para a rua. Sem pensar três vezes agarro na perna da minha ninfa, que ainda não sei o nome, e corro para a janela...

O Herói

Do lado de fora do edifício muitas pessoas estavam a ver o se passava, e no meio da confusão, ouvem uma janela a partir e uma pessoa a sair disparada, rodeado de chamas e com alguma coisa nos braços. Rapidamente as pessoas começaram a aplaudir e a chamar-me herói pois pensavam que eu trazia um bebe nos braços.

Um pouco confuso com aquela situação toda, começo a sentir-me verdadeiramente um herói e resolvo mostrar o meu troféu. Ao verem a perna de madeira toda chamuscada e com serpentes e dragões desenhadas, rapidamente começo a ouvir gritar: “BBBUUUUHHHHH”, “ És um fraco....”, “Também não se podia esperar muito de um gajo que vai ao MAYBE”.

No meio da confusão de sirenes, gritos, fumo, olho para a direita... No meio da névoa de fumo negro do incêndio vejo uma mulher com umas curvas acentuadas e uma perna, a vir na minha direcção. Senti uma imensa paz e tranquilidade ao avistar a ucraniana dos meus sonhos, que conheci no LIDL e que ainda não sei o nome, a vir na minha direcção...

Acordar Parte II

Foi nesse momento que alguém gritou "NORBERTO! O ALMOÇO ESTÁ NA MESA!".
Algo não batia certo! Começo a sentir uma grande dor de cabeça e a boca a saber a papel de música... Viro-me e tudo à minha volta desapareceu! Até que um grande clarão imunda a minha vista, que me fere os olhos e faz disparar o latejar da minha cabeça... volto a ouvir aquela voz estridente que diz "Grande bebedeira ontem não? Escusavas de vomitar o tapete de Arraiolos da entrada!".

Rapidamente várias imagens percorreram o meu pensamento... mas só me conseguia lembrar daquela ucraniana que conheci no LIDL, que era quase igual à senhora que tinha visto esta tarde, na barraca dos horrores na feira de Maio.

Percebi que tudo não passara de um lindo sonho. Estava desfeito!

Foi nesse momento, que a minha mãe me atira com o jornal da Dica da Semana para ver se eu acordo. Apressadamente salto da cama, ainda tonto e vou para a casa de banho. Enquanto estou sentado na sanita vou desfolhando o jornal, e qual o meu espanto, lá estão as luvas de borracha para lavar a louça a 2,43 €, uma máquina para bater o pão a 15,43€ e uma régua para colocar na cozinha e pendurar os panos de cozinha por 6,87€, e pasme-se... tesouras para cortar as unhas dos pés para pessoas canhotas a 0,73€... Tive uma incrível sensação de "Dejá-vu"!

Salto rapidamente da sanita, desço as escadas ainda em pijama, escorrego no vomitado do dia anterior, mas levanto-me rapidamente passo na cozinha e grito que tenho de sair "Já volto!". Já no carro, agora a cheirar a vómito, penso... que estúpido... tenho de pelo menos levar um roupão!

Subo e desço rapidamente, e agora sim, ponho o meu Datsun a trabalhar, e lá vou eu a mais de 20km/h, nesta louca correria até ao LIDL!

Passados 48 minutos, chego ao LIDL mais próximo de casa (o Datsun não queria colaborar)... Entro a medo, até porque estava com algum nervosismo, e temia que os ataques de flatulência ocorridos no terrível/maravilhoso pesadelo/sonho voltariam a atormentar-me!

Mas não, o meu esfíncter não me deixou mal. Comecei a observar a clientela, ao mesmo tempo que procurava pelo magnífico corta-unhas para canhotos (apesar de ser destro), mas nada, já era tarde, e todas as boas oportunidades, devidamente referidas na DicaDaSemana, estavam esgotadas.

Infelizmente não encontrava aquela ninfa com que sonhei.

A noite passada não tinha sido muito diferente de muitas outras. Bebi 23 mini´s (devidamente travadas), Kilo e meio de Couratos e meio litro de Gasosa, na festa da Columbófila. Não tinha outra hipótese do que repetir a dose e rezar para que o sonho voltasse a aparecer!

Mas nesse preciso momento lembrei-me de um pormenor ocorrido na noite anterior! Tinha bebido 22 mini´s (apesar de estar com uma de atraso em relação ao Rui "Ratters", duas em relação ao Pedro "Doutor" e claro, 5 de atraso em relação à Ana "Stôra"), acabei por aceitar um Biberão oferecido pelo Miguel "Dj"!

Será que este biberão destabilizou todo o equilíbrio do meu sono e despoletou aquela viagem pelo mundo das Prostitutas Exóticas?!

DICA: Nunca bebas uma mini sem travão, muito menos oferecida pelo DJ.

Conto escrito por:

Ana Lisa
Daniel Sousa
Miguel Neto
Pedro Pinto
Rui Vitorino